Milan Kundera / Foto.: Reuters

Milan Kundera foi um dos grandes da literatura e faleceu no ano passado. A Leya edita agora “Jacques e o seu Amo”, uma peça teatral escrita no início dos anos 70 pelo escritor de “A Insustentável Leveza do Ser”. Feita na ressaca da Primavera de Praga após a invasão soviética de 1968, após a qual os trabalhos de Kundera seriam proscritos, a história ultrapassou a fronteira checa de forma clandestina depois do dramaturgo francês Georges Weler a levar, em 1972. Três anos depois, o próprio escritor rumaria para Paris, sem olhar para trás. Em 1979, teve sua cidadania checa revogada, algo que só lhe foi devolvido em 2019.

O livro retrabalha um dos grandes clássicos da produção Iluminista, “Jacques, o Fatalista”, obra de Diderot publicada postumamente em 1795. O que fascinou Kundera foi, mais do que a filosofia, atenta a questões que fascinavam o século XVIII (neste grande período de afirmação liberal o dilema de Jacques, que discutia com o seu amo, era que todos os acontecimentos terrenos eram obra do determinismo, um forte contraponto ao princípio da liberdade individual), foi a enorme liberdade formal de Diderot. O livro é composto em forma de diálogos, mas frequentemente interrompidos por considerações do autor, comentários de outras personagens e rompimentos da quarta parede onde, aspeto vital no livro de Kundera, discutia-se o próprio ato de criar.

Mas havia mais: para o autor checo, mergulhar na obra era como respirar os libertários ares ocidentais depois do que ele chama de “instalação do irracionalismo russo”. “Quando a pesada irracionalidade russa se abateu sobre o meu país, senti uma necessidade instintiva de respirar plenamente o espírito dos Tempos modernos ocidentais. E esse espírito parecia-me concentrar-se com uma densidade inigualável nesse festim de inteligência, de humor e de fantasia que é Jacques, o Fatalista”, disse ele.

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