O livro do historiador francês Olivier Wieviorka foi lançado em Portugal pela editora Planeta (via Crítica).
Eric Hobsbawm escreveu que se eram complexas as causas da 1ª Guerra Mundial, a 2ª tinha um responsável fácil de apontar: Adolf Hitler. Sem contradizer particularmente essa ideia, o historiador Olivier Wieviorka, ao iniciar essa vasta incursão por todos os momentos da conflito, acrescenta uma outra ideia: Hitler não tinha de todo planos para um conflito com a escala que este terminou por ganhar.
É o caso singular do avanço sobre a Polónia, que despoletou, para a surpresa do “fuhrer”, a declaração de guerra da Inglaterra e da França contra a Alemanha. Essa foi considerada, no entanto, uma “guerra de mentira” (na verdade ninguém, exceto o próprio Hitler no Leste europeu, queria um confronto) durante o ano de 1939 – ainda que desenvolvimentos nos Balcãs e na Escandinávia, para além de algumas desastradas incursões italianas, demonstrassem que o continente já não estava em paz.
Esse casuísmo continuou no ano seguinte: a impressionante vitória da “blitzkrieg” sobre os franceses, que culminou com a humilhação destes e com a assinatura que eliminava o odiado Tratado de Versalhes no mesmo lugar onde ele havia sido assinado, apanhou os próprios alemães de surpresa. Na euforia do verão de 1940, Wieviorka sustenta que Hitler e seus comandados não sabiam para onde ir.
Foi para o lugar errado: temendo o antagonismo da Inglaterra, dedicou-se nos meses seguintes a vastos bombardeios e à uma abortada tentativa de invasão das ilhas. Aqui o plano inverteu-se, com piores consequências para a União Soviética – particularmente naquilo que é hoje a Ucrânia: a operação Barbarossa destaca-se, antes do Holocausto, como um vasto cortejo de barbáries e atrocidades cometidas pelos alemães no seu sonho pelo “liebestraum” – o vasto território de planícies que os germânicos “tinham direito” para garantir o seu sustento.
O historiador lança-se, como o próprio admite, no exercício intimidatório de fazer uma síntese sobre um conflito tão vasto – obras menos abundantes em todo o mundo do que se poderia esperar. “Apesar disto, decidi enfrentar o desafio”.
Assim, o livro vai buscar a selvajaria dos confrontos no Norte da África, as incursões japoneses que envolveram vastas regiões da Ásia, a participação dos norte-americanos nos mais diversos teatros e, claro, a resiliência e o heroísmo de muita gente, como os russos, que acabaram por ser decisivos em momentos como a Batalha de Stalingrado. Conforme observa, “nunca na história do mundo um conflito afetou tantos seres humanos num período tão curto e por meios tão bárbaros”.