Joseph Roth

“Fuga sem Fim” foi lançado originalmente em 1927 e trata da perspectiva de Roth, remanescente após a queda do Império Austro-Húngaro na 1ª Guerra Mundial, sobre a vida dos judeus que perderam a pátria multicultural na qual se reconheciam. O livro chega às livrarias pela Leya, chancela Dom Quixote.

“Franz Tundra era um jovem sem nome feito, sem importância, sem galões militares, sem títulos, sem dinheiro e sem profissão – apátrida, não tinha direitos”. Nesta descrição do seu protagonista, o escritor Joseph Roth, falecido em 1939, simboliza muito de todo o seu universo mental e das suas preocupações históricas e filosóficas. O seu protagonista se encontra em um mundo em transformação radical: a Rússia pós-revolucionária, o colapso do Império Austro-Húngaro e a fragmentação da Europa. No seu longo trajeto até uma casa que pensa existir, Tundra atravessa um continente destroçado por guerras e ideologias em conflito.

Roth nasceu no império Austro-Húngaro e foi particularmente incisivo em descrever o desabamento deste gigante da Europa Central e uma das maiores vítimas da 1ª Guerra Mundial. Se, por um lado, muitos dos novos e pequenos estados nascidos deste desmoronamento poderiam encontrar afinidades linguísticas e territoriais, isso não ocorreu especialmente com um povo: os judeus. 

Roth escreve sobre massas de gente desenraizadas, o tema do seu clássico ensaístico lançado em 1926, “Wandering Jews”, vagando nos arredores de terras e cidades em procura de um lugar onde pudessem estar e frequentemente mal recebidos. Franz Tundra, que percorre incríveis 7 ou 8 mil quilómetros pelas estradas de 1920 e tendo como ponto de partida Irkutsk, no sul da Sibéria, simboliza tudo isso: as identidades falsas, o longo périplo e, especialmente, a busca de um sentido que lhe conferisse um enquadramento existencial. 

Não que não tivesse um gatilho: no início da narrativa quando, depois de fugir de uma prisão russa e ir parar a Irkutsk onde vive até saber que a guerra terminou, o seu ânimo de voltar para a Europa Ocidental era dado por uma simples fotografia – o da noiva prometida com a qual nunca teve a oportunidade de conviver e, julgava ele, ainda estaria à sua espera. A narrativa termina por ser um belo testemunho do estilo de Roth, extremamente melancólico e marcado por questões tão práticas quanto existenciais. 

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