Despedidas Impossíveis”, da escritora sul-coreana Han Kang, chega às livrarias em Portugal na mesma altura que a sua primeira edição inglesa. O lançamento é da Leya, chancela Dom Quixote.

“É que esta pausa do meu próprio inferno para visitar uma amiga no hospital me parecesse irritante pela sua peculiaridade e impressionante lucidez”. Kyungha, a protagonista desta história, não surge num momento particularmente animador: movida por traumas e a viver em completo isolamento, onde definha quase sem comer e não sai de casa, escreve e reescreve uma “carta testamento” – a qual nem sequer sabe para quem enviar.

Uma mudança surpreendente nesta rotina de pesadelos recorrentes e lembranças difusas, onde chega a confundir ilusão e realidade, dá-se com o chamamento de uma amiga hospitalizada em Seul. Esta pede-lhe um favor tão quimérico quanto especial – reacendendo, de alguma forma, uma ténue conexão de Kyungha com a vida. 

Sob um pano de fundo pessoal, Han Kang insere um cenário histórico terrivelmente trágico: Jeju, a ilha para onde sua protagonista se desloca, foi palco de uma das muitas tragédias enfrentadas pela Coreia após o fim da Segunda Guerra Mundial. Assim como o Vietnã, mas com menos reconhecimento global, a Coreia foi um dos países que pagaram o preço mais alto pela desumanidade geopolítica da Guerra Fria. Durante anos, o massacre de Jeju permaneceu um tabu, com o governo da Coreia do Sul — apoiado pelos Estados Unidos — silenciando qualquer menção ao evento em que milhares de pessoas foram brutalmente mortas por se oporem ao projeto que, irrevogavelmente, dividiria a Coreia em dois, com consequências que persistem até hoje.

A autora deu nas vistas no circuito internacional com “A Vegetariana”, que chegou à tradução inglesa em 2016 (foi originalmente publicada em 2007), seguidas por outros lançamentos (“Atos Humanos”, “O Livro Branco”, “Lições de Grego”). Em 2024, a academia sueca concedeu-lhe o Nobel pelo conjunto da sua obra.

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